Este ano as férias da Páscoa incluíram uma visita à Turquia, com passagem pela Capadócia e Istambul…
Vila de Goreme, Capadócia
Como seria de esperar, a comida turca é muito parecida com a grega e a mediterrânica em geral: muito peixe fresco, espetadas e refogados de frango e cordeiro/borrego, almôndegas, muita beringela, tomate, grãos, azeite e o incontornável iogurte. Só não existe porco e em alguns restaurantes o álcool não é sequer opção devido à religião muçulmana. Em relação aos doces, quase todos eles levam frutos secos e muito açúcar ou mel. Há também uma cultura muito grande do queijo, do pão e dos chás…
Começamos a viagem pela Capadócia onde passamos 4 dias…
Comemos em Goreme, a vila mais central e típica da região, e Avanos a 10 km de Goreme, onde ficamos alojados. Parte dos restaurantes que visitamos foram sugestão de um blog de turismo muito interessante que seguimos quase toda a viagem e que recomendo.
No primeiro dia o almoço foi no Sedef Restaurant… paramos lá porque nos pareceu agradável e realmente foi uma bela primeira impressão… serviço eficiente e ambiente tranquilo onde nos serviram de entrada o pide: um pão turco gigante e maravilhoso cozido em forno a lenha, com acompanhamentos de pasta de tomate, manteiga e queijo ralado.
Para a refeição os meus pais e irmã pediram o Testi Kebap, em inglês Pottery kebab, muito típico da região. Avanos é um grande centro de olaria e existe a tradição de se cozinhar e servir a comida em potes ou travessas de barro. Este estufado de frango ou cordeiro é cozinhado no forno dentro do pote e o cliente é depois convidado a parti-lo com um machete para o abrir na mesa… claro que vi muitos acidentes, mas suponho que seja daquelas coisas a que o turista não resiste! A maioria dos restaurantes tem à porta como decoração centenas de potes de barro já usados.
Aqui a minha irmã a partir os potes… claro que correu mal e este foi o resultado:
Pote partido no sitio errado…
Pote partido no sitio certo!
Apesar de tudo, gostaram do sabor e do facto da comida se manter quente do início ao fim… há que lembrar que no inverno neva na Capadócia e talvez seja daí esta necessidade de manter a comida quente durante a refeição, como se verá noutro caso mais à frente…
Já eu pedi o meu primeiro doner kebab de cordeiro, que além de muito saboroso, estava acompanhado de um arroz com pinhões, também típico da região e que adorei.
No segundo dia almoçamos em Goreme no Old Capadocia, que estava recomendado pelo site que já referi. Pedimos mais uma refeição regional, que mais não era do que um estufado de frango com tomate, beringela e pimento bem temperado, acompanhado do mesmo maravilhoso arroz de pinhões, servido num prato de ferro com brasas por baixo para manter o prato quente. O meu pai pediu um sargo assado que lhe foi servido numa travessa de barro onde foi cozinhado na perfeição (segundo ele!).
Neste restaurante voltaram a servir o pão feito em forno próprio, servido com azeite e uma mistura de especiarias… pedi para fotografar o forno e foram muito solícitos mas infelizmente já passava das 3 da tarde e estava sem nada lá dentro… a fotografia ficou má por isso decidi colocar aqui uma que encontrei na internet só para terem uma ideia de como são os fornos a lenha dos restaurante da zona:
Foto retirada do site: http://www.tripadvisor.com/LocationPhotoDirectLink-g297983-d1900162-i61374899-Sedef_Restaurant-Goreme_Cappadocia.html#56590186
Pedimos um prato de degustação para entrada onde existia (no sentido dos ponteiros do relógio): folha de videira recheada, beringela recheada, pasta de tomate picante, pimento verde recheado com arroz, salada russa de pickles, tomate e hummus.
Pedimos ainda uma beringela gratinada que estava muito agradável… a forma como cozinham a beringela lá ainda ninguém a consegue fazer aqui… além disso faz toda a diferença ser cozinhada em forno de lenha porque a beringela fica com um sabor fumado delicioso…
Para refeição pedi um kebab de cordeiro, e umas espetadas saborosas me foram servidas… o pão pita que servem com os kebabs é que nada tem a ver com o que comi na Grécia… muito mais mole e sem sabor.
Uma das experiências interessantes neste restaurante foi o sumo de rabanete que o meu pai pediu… não chegamos a perceber se foi acidente durante a preparação ou se aquilo se bebe mesmo assim… mas dizer que sabia a água do mar e que um único gole me fez salivar a noite inteira não é exagero… ficou todo no copo porque era absolutamente intragável!!
No terceiro dia almoçamos num restaurante muito rustico à beira rio do vale de Ihlara, onde as opções eram poucas e onde comemos espetadas de frango acompanhadas de iogurte… e água! Lá não se servia nem cerveja…
Jantamos em Goreme no My Mother’s… onde fomos recebidos por uma família simpática, num ambiente muito acolhedor com as habituais entradinhas: puré de tomate picante, beringela assada em forno de lenha e iogurte. Na Turquia, tal como na Grécia, usam muito o iogurte, mas em vez de o tornarem mais espesso e lhe juntarem pepino, usam ervas como a hortelã e o endro e servem-no com uma textura mais liquida e suave. Pedi um “Mother’s soslu tavuk (mother’s special chicken)”, que era um estufado de frango com cebola e mel, acompanhado de arroz (o mesmo arroz de pinhões de sempre) e puré de batata. Simples e delicioso.
No quarto dia almoçamos novamente no Old Capadocia em Goreme onde todos comeram peixe assado menos eu que comi um estufado de beringela e carne picada muito caseiro e saboroso, também servido na travessa de barro onde foi cozinhado.
Jantamos em Avanos onde íamos a um restaurante recomendado mas que estava fechado para obras… acabamos num outro demasiado local e do qual não captei o nome mas também não interessa muito porque não recomendo… neste restaurante voltaram a não servir álcool, o serviço e o ambiente não foi dos melhores (os empregados fumavam em plena sala de refeições!) e a minha espetada de cordeiro estava boa mas demasiado picante para o meu gosto… a única vantagem é que comemos os quatro por 25 euros!
Depois de quatro dias na Capadócia (que adoramos, em todos os sentidos!) fomos passar mais 4 dias em Istambul.
A experiência em restaurantes foi pequena porque a minha mãe estava num congresso e tínhamos almoços e jantares no hotel. Pouco comemos fora do hotel e nunca mais vi comida caseira como na Capadócia…
No primeiro jantar comemos perna de cordeiro assada (nunca comi nada parecido aqui em Portugal… muito macia, tenra e saborosa!) e tivemos uma boa oportunidade para experimentar alguns dos vários doces típicos do país… como não sou grande apreciadora de doces, deste meu prato de degustação só comi até ao fim o arroz doce… pareceu-me tudo muito bem confeccionado mas eles têm uma tendência fortíssima para carregar no açúcar e mel…
À nossa disposição havia:
Helva (que significa doce) de pinhões e uvas passas, que era uma mistura húmida e doce de semolina com frutos secos
Baklava… tão igual e tão doce como o grego
Sutlaç, que é arroz doce turco, bem parecido com o nosso e bem menos doce que as habituais sobremesas turcas
Tarte de noz com xarope de limão
Revani – bolo de semolina doce, que era também agradável e bastante húmido
E panacota de chocolate branco e mel com baklava desconstruído
No almoço do dia seguinte eu fazia anos! O restaurante do hotel tinha um buffet fantástico onde não faltavam entradas frias e quentes, comida turca, pizza, massas, carnes grelhadas na hora e claro, comida japonesa! Não foi do melhor sushi que já comi mas deu bem para matar o bichinho e celebrar o meu aniversário com a minha comida preferida! Para bolo de anos, uma fatia de tiramisu!
À noite tínhamos um jantar marcado pelo congresso na animada zona de restaurantes de Kumkapi, bem junto ao rio, e comemos no Kalamari. Fomos recebidos com um pão fraquinho, anchovas marinadas, iogurte e a habitual pasta de tomate. Depois serviram-nos os óbvios calamares e os pasteis de queijo que também vi em todas as ementas e buffets e que não me agradaram em nada…
Para refeição serviram peixe assado que infelizmente estava demasiado passado. O restaurante encheu mas a experiência não foi das melhores até porque apareceu um grupo de musica folclórica turca que apesar de nos ter divertido por alguns minutos, acabou por cansar os nossos ouvidos e impedir as conversas…
No terceiro almoço experimentei um tomate recheado com arroz que também já tinha comido na Grécia mas que não estava tão bom porque o arroz estava demasiado cozido… e mais uns doces muito doces que não sei o nome mas que até estavam melhores que os primeiros!
O terceiro jantar foi num cruzeiro pelo Bósforo onde tivemos novamente um prato de degustação de entradas, onde havia as anchovas marinadas, bulgur de tomate, vários queijos, beringela assada com molho de tomate, folha de videira recheada, pasta de tomate, massa com molho de queijo, tomate e malagueta verde…
O jantar foi vitela assada com arroz e puré de batata, bem internacional…
Neste jantar provei o famoso Raqui. Encontrei este blog onde podem ler mais sobre a bebida nacional da Turquia. Podem dar-lhes nomes diferentes mas sabe exactamente ao mesmo que o Ouzo da Grécia… a anis! Os turcos deitaram algumas valentes garrafas abaixo durante os jantares mas eu não consegui beber este copinho…
No dia que tivemos livre almoçamos perto da Mesquita Azul, no Kilari onde comemos um kebab em (suposto) pão pita grosso que deixou muito a desejar… o pão era pesado e ninguém conseguiu comê-lo todo… e a carne era pouco temperada.
O último jantar foi no hotel onde pedi um prato de degustação de espetadas… eram de espadarte, frango, cordeiro e vaca, acompanhadas de bulgur de tomate, beringela grelhada e marinada, uma salada doce e pão pita.
As espetadas estavam boas às excepção do peixe que estava muito seco e sem sabor. O pão pita mais uma vez deixou muito a desejar, nem tostado ou quente vinha. Os acompanhamentos estavam todos deliciosos, principalmente a beringela e a salada de tomate e pimentos adocicada. A cerveja local é a Efes e é bastante boa.
Até no avião se comeu bem! Ao regresso na Turkish airlines serviam-me beringela recheada com carne picada e molho de tomate que estava delicioso (sim! no avião!).
Fora das mesas de restaurantes vi muitas banquinhas de comida de rua a vender kebabs, espigas de milho assadas, castanhas assadas, simit (um pão em forma circular com sementes de sésamo), gelados turcos e sumos de laranja e romã espremidos na hora…
Fiquei com muita pena de não ter comido nenhum gelado de rua. Passei por alguns tanto na Capadócia como em Istambul mas sempre antes de almoço ou jantar, o que me fez ir adiando o gelado até ter ficado sem oportunidades… o gelado turco é bem diferente do gelado a que estamos habituados. Já tinha ouvido falar nisso e depois consegui provar um bocadinho do gelado que a minha mãe pediu num restaurante em que pude ver como realmente é mais denso e pegajoso que os gelados normais. Isso leva a que os vendedores façam “shows” ao servi-los como podem ver nestes vídeos que encontrei no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=clHxNKCsi0s
http://www.youtube.com/watch?v=HKbNcFhCqyY
Os chás estão obviamente em todo o lado, o de maçã pareceu-me ser o mais consumido… bem apreciado pelo meu pai!
Istambul está inundada de padarias, frutarias e mercearias a cada esquina… a visita ao Mercado de Especiarias ou Mercado Egípcio vale muito a pena! Lá pudemos ver dezenas de bancas de flores e sementes, sabonetes, especiarias, chás, frutos secos, doces, torrões e queijos de todas as qualidades… além de algumas peixarias…
Apesar do tempo que lá estivemos, muito ficou por provar… como a sopa de lentilhas, a pizza turca (que é a pide recheada) ou o simit e os gelados… será uma boa desculpa para voltar e conhecer outras cidades!
Desta vez não comprei nenhum livro de culinária local. Fiquei-me por algumas peças de olaria para servir uns aperitivos:
e chá de jasmin, que é lindíssimo tanto seco como depois de preparado:
Se quiserem saber mais (muito mais e melhor) sobre a culinária turca aconselho uma visita a este blog em português exclusivamente dedicado ao tema: http://cozinhaturca.blogspot.pt/2007/09/sobre-cozinha-turca.html
2 respostas
Que viagem fantástica!
Foi realmente uma experiência maravilhosa! Para quem adora viajar, poder associar isso a boa gastronomia é sempre a cereja no topo do bolo!